Carnaval passou e mais um espetáculo de luz e cores se apresentou na Sapucaí. Independente do seu grau de envolvimento com o carnaval, você sabe bem o que é o sambódromo. Em fevereiro, ele completou 30 anos. Na comemoração, ganhou um suplemento especial feito pelo O Globo, contando os detalhes da concepção à inauguração.
Projetado por Niemeyer, com cálculos de Sussekind, esse é mais um daqueles projetos polêmicos, com alto custo aos cofres públicos. Entretanto, diferente de tantas obras que se arrastam por anos, foi construído em incríveis 110 dias. Rebolando entre opinião pública, jornalistas e profissionais do samba, Darcy e Brizola tocaram o projeto que mudou de vez o carnaval do Rio de Janeiro. Ou melhor, do Brasil.
Eu sempre duvido da visão dos políticos. A impressão é que ela tem validade programada para os anos pares. Independente do que foi aquele momento, a dupla deu qualidade a algo que consolidaria de vez o carnaval no imaginário brasileiro e internacional: a transmissão da televisão.
Se você conhece um pouquinho sobre o Brizola, sabe que ele não era muito simpático à Globo e ao “doutor Roberto”. Enfim, quem teve exclusividade na transmissão do evento foi a jovem TV Manchete. Aliás, no livro “Os Irmãos Karamabloch”, que conta a história da família de Adolfo Bloch, é citado que a renda gerada com o carnaval bancava boa parte do ano da emissora. Isso reflete os altos índices de audiência que o carnaval propõe. A maior festa popular do Brasil ganhou um templo, com direito a culto televisionado para milhares de olhos pelo mundo.
Hoje é impossível imaginar o Rio e o Brasil sem a Sapucaí. Me arrisco a dizer que materializar a alegria numa “avenida-monumento” foi fundamental para consolidar a imagem do carnaval, o que significa muito na venda da cidade e país para o mundo, além de criar um sólido contraponto à violência que vivemos.
Claro que há muito caroço no angu para escolha da sede das olimpíadas. Mas é interessante olhar para trás e pensar como uma solução simples, como o sambódromo, pôde contribuir para a formação do imaginário da cidade, ampliando sua força turística, que desembocou na escolha de 2016.
Conversando com uma senhora em Olinda, Pernambuco, ela me revelou o que, segundo ela, era o único sonho de sua vida: “Queria ir ao Rio, sentar nas arquibancadas da Marquês de Sapucaí e ver a minha Portela passar.”
Darcy Ribeiro e Leonel Brizola talvez não soubessem mas, naqueles românticos anos 80, tiveram a visão de construir um dos maiores ativos da cultura brasileira.