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Pontes e barreiras

Soluções digitais para instituições e marketing político.

Pontes e barreiras

O ano de 2003 foi o último. De escola, adolescência, vagabundagem, menor idade e, também, São Gonçalo. No ano seguinte, era faculdade, em outra cidade, na maioridade. Aquela realidade nova foi uma meia-volta, como deveria ser. Estava retornando ao velho centro do Rio, lugar onde, como um bandeirante, já desbravara em 2001/2002, nos tempos de Villa Lobos. Mas agora era diferente. Mais velho você começa a enxergar os perigos que não vê quando tem 15 anos. (Ainda bem!)

Um universo paralelo

A universidade é um mundo paralelo ao real. No caso do design, ainda mais. O curso não é para todos. Os esforços não são exclusivamente intelectuais, mas também financeiros. A formação anterior individual é um exemplo. Escolas melhor equipadas (mais caras) influem no desenvolvimento de cada um. As públicas federais são exceções, pois são pequenas ilhas na educação pública. Voltando ao ambiente universitário, em geral os materiais do curso são caros, desde o lápis até o processador do computador. Por conta das cotas sócio-econômicas, principalmente no 4º ano de implantação (2007) quando as regras para adesão ficaram rígidas, o abismo ficou mais explícito. A cor da pele era um mero detalhe.

Meu primeiro ano por ali passou despercebido. Eu fazia tanta coisa fora daquele universo que me mantive bem distante. Ainda tinha meus compromissos em São Gonçalo, sem falar no grande contato com os amigos. Em 2005, a bússola virou totalmente para a região Guanabarina, tendo Niterói como entreposto de entretenimento.

Naquele pequeno microcosmo universitário, via as pessoas divididas em 4 campos diferentes: Rico, médio que pensa ser rico, médio-remediado e médio-baixo. Vamos lá, não havia pobres. Estávamos com o bolsa-família em curso, e a pobreza de verdade, aquela que eu conhecia, não conseguiria nem pegar o ônibus até lá.

Ser da cidade vizinha, particularmente de São Gonçalo, me deixava numa posição automática de “média-baixa”, por mais médio-remediado que eu fosse. Particularmente, foi interessante. Como sabemos, o brasileiro tem aquela sutileza em se mostrar “melhor” que o outro, mesmo que na mesma merda. Heranças de uma certa família real. Eu, que antes de nascer esqueci de entrar na “fila” do orgulho, pude observar bem como as coisas se davam. E, claro: se quiser conhecer uma pessoa de verdade, veja-a de baixo para cima (sem duplos sentidos).

A faculdade foi apenas a primeira instância. Aos poucos, as rivalidades e recalques entre “zona norte x zona sul”, “Niterói x zona sul”, “zona sul x Barra” foram ficando mais aparentes. Trabalhei em Laranjeiras, Barra, Jardim Botânico, Centro, Rio Comprido, Catete, sem falar nos outros lugares que eventualmente ia ou trafegava com constância, onde as mesmas realidade se confirmavam.

Observação importante: As pessoas odeiam ser rotuladas. Tudo bem. Mas, vamos lá: a mente humana é um grande buscador, um Google que avalia, classifica e rotula as páginas (ou as pessoas) de acordo com as suas palavras-chave. Se enganar não leva à nada.

A volta

Depois de 9 anos, dormindo em uma cidade e vivendo em outra, o “retorno” veio de forma inusitada. Em fevereiro de 2012, criei a página “Sim, Eu sou de São Gonçalo”, que fazia graça das coisas nativas que aconteciam na cidade. A “comunidade” cresceu e começou a apresentar rostos que se fazem presentes na cidade.

Ver esses rostos de forma mais próxima me deu a noção de como são essas relações entre esse povo tão heterogêneo. Talvez, a página tenha sido a fagulha para dar alguma consistência às minhas reflexões e avaliações dos últimos 10 anos. Essas, por sua vez, me deram leituras bem particulares, onde posso ver os diferentes Rios que deságuam no mesmo mar. Onde Campo Grande, Nova Iguaçu, Caxias e São Gonçalo tem muito mais em comum que pensavam, no amor e na desgraça. O interior é muito mais rico e promissor que se imagina. E que a Barra está a passos largos na corrida que a fará mais valorizada que a Zona Sul, que por sua vez deve retornar com exemplos o que se imagina como sociedade, sem isolamentos.

O aprendizado é que fazemos muitos esforços construindo barreiras entre as pontes que nos ligam. Mas não adianta. Se nada for feito, ela volta. Sim, a merda volta sem pagar pedágio, seja de assalto ou arrastão.

Aproveite para ver os vídeos também.

O ano de 2003 foi o último. De escola, adolescência, vagabundagem, menor idade e, também, São Gonçalo. No ano seguinte, era faculdade, em outra cidade, na maioridade. Aquela realidade nova foi uma meia-volta, como deveria ser. Estava retornando ao velho centro do Rio, lugar onde, como um bandeirante, já desbravara em 2001/2002, nos tempos de Villa Lobos. Mas agora era diferente. Mais velho você começa a enxergar os perigos que não vê quando tem 15 anos. (Ainda bem!)

Um universo paralelo

A universidade é um mundo paralelo ao real. No caso do design, ainda mais. O curso não é para todos. Os esforços não são exclusivamente intelectuais, mas também financeiros. A formação anterior individual é um exemplo. Escolas melhor equipadas (mais caras) influem no desenvolvimento de cada um. As públicas federais são exceções, pois são pequenas ilhas na educação pública. Voltando ao ambiente universitário, em geral os materiais do curso são caros, desde o lápis até o processador do computador. Por conta das cotas sócio-econômicas, principalmente no 4º ano de implantação (2007) quando as regras para adesão ficaram rígidas, o abismo ficou mais explícito. A cor da pele era um mero detalhe.

Meu primeiro ano por ali passou despercebido. Eu fazia tanta coisa fora daquele universo que me mantive bem distante. Ainda tinha meus compromissos em São Gonçalo, sem falar no grande contato com os amigos. Em 2005, a bússola virou totalmente para a região Guanabarina, tendo Niterói como entreposto de entretenimento.

Naquele pequeno microcosmo universitário, via as pessoas divididas em 4 campos diferentes: Rico, médio que pensa ser rico, médio-remediado e médio-baixo. Vamos lá, não havia pobres. Estávamos com o bolsa-família em curso, e a pobreza de verdade, aquela que eu conhecia, não conseguiria nem pegar o ônibus até lá.

Ser da cidade vizinha, particularmente de São Gonçalo, me deixava numa posição automática de “média-baixa”, por mais médio-remediado que eu fosse. Particularmente, foi interessante. Como sabemos, o brasileiro tem aquela sutileza em se mostrar “melhor” que o outro, mesmo que na mesma merda. Heranças de uma certa família real. Eu, que antes de nascer esqueci de entrar na “fila” do orgulho, pude observar bem como as coisas se davam. E, claro: se quiser conhecer uma pessoa de verdade, veja-a de baixo para cima (sem duplos sentidos).

A faculdade foi apenas a primeira instância. Aos poucos, as rivalidades e recalques entre “zona norte x zona sul”, “Niterói x zona sul”, “zona sul x Barra” foram ficando mais aparentes. Trabalhei em Laranjeiras, Barra, Jardim Botânico, Centro, Rio Comprido, Catete, sem falar nos outros lugares que eventualmente ia ou trafegava com constância, onde as mesmas realidade se confirmavam.

Observação importante: As pessoas odeiam ser rotuladas. Tudo bem. Mas, vamos lá: a mente humana é um grande buscador, um Google que avalia, classifica e rotula as páginas (ou as pessoas) de acordo com as suas palavras-chave. Se enganar não leva à nada.

A volta

Depois de 9 anos, dormindo em uma cidade e vivendo em outra, o “retorno” veio de forma inusitada. Em fevereiro de 2012, criei a página “Sim, Eu sou de São Gonçalo”, que fazia graça das coisas nativas que aconteciam na cidade. A “comunidade” cresceu e começou a apresentar rostos que se fazem presentes na cidade.

Ver esses rostos de forma mais próxima me deu a noção de como são essas relações entre esse povo tão heterogêneo. Talvez, a página tenha sido a fagulha para dar alguma consistência às minhas reflexões e avaliações dos últimos 10 anos. Essas, por sua vez, me deram leituras bem particulares, onde posso ver os diferentes Rios que deságuam no mesmo mar. Onde Campo Grande, Nova Iguaçu, Caxias e São Gonçalo tem muito mais em comum que pensavam, no amor e na desgraça. O interior é muito mais rico e promissor que se imagina. E que a Barra está a passos largos na corrida que a fará mais valorizada que a Zona Sul, que por sua vez deve retornar com exemplos o que se imagina como sociedade, sem isolamentos.

O aprendizado é que fazemos muitos esforços construindo barreiras entre as pontes que nos ligam. Mas não adianta. Se nada for feito, ela volta. Sim, a merda volta sem pagar pedágio, seja de assalto ou arrastão.