Há pouco tempo, fui abrir um caderno de viagens e achei um relato meu, escrito em 2013, sobre a cidade de Rishikesh, na Índia. O lugar ficou bastante conhecido por conta dos Beatles que, em 1968, se hospedaram na cidade, seguindo o guru Maharishi. Pessoalmente fui parar lá por conta da fama de “capital da Yoga”. E só depois descobri esse detalhe musical. Aliás, se você quiser saber mais sobre isso, confira no vídeo.
Hoje é um lugar que eu voltaria de boa, de completo coração aberto para ficar uma semaninha. Mas é só. Aliás, fora a Yoga e o visual, os atrativos das outras cidades indianas são bem mais interessantes.
Relembrar como cheguei à Rishikesh me traz memórias curiosas. Apesar de ter curtido bastante ir até lá, o trajeto foi uma aventura, pelas dificuldades naturais de se percorrer o território indiano.
Como cheguei à Rishikesh e onde fiquei?
Peguei um trem que partia de Varanasi a Dehradun. No meio do caminho, saltei em Haridwar. Aliás, essa é uma cidade bem interessante, que futuramente vou descrever aqui. Eis que depois de umas 16 horas de viagem dentro do trem, cheguei de madrugada, umas quatro da manhã, acho.
Aliás, o fato de descobrir em qual lugar o trem está também é um mistério para nós que não somos locais. Se você conseguir comprar um chip indiano, conseguirá habilitar seu celular e ter um GPS mais preciso. Entretanto, usei o modo antigo: perguntei para os locais que estavam no trem.
Ainda na estação, ouvi uma brasileira trocando ideia com outros brasileiros e pegando um táxi para Rishikesh. Dei um mole terrível, pois eu deveria ter trocado uma ideia e pego um bonde com eles também.
A estação de Haridwar parecia um santuário de macacos. Eram muitos primatas no local em plena convivência com os humanos. Aliás, muitas pessoas esperam seus trens deitados numa canga.
Só consegui pegar um táxi para me levar à Rishikeshi às 6 da manhã. Depois de muito negociar, consegui a ida por 500 rúpias.
Uma observação: ao ir embora, peguei um TukTuk, pois estava bem inflacionada a volta com os táxis. O motorista me cobrou apenas 300 rúpias. Entretanto… em 2013, a estrada estava bem esburacada e foi difícil me segurar dentro do veículo. Portanto, fica a dica: escolha sempre o táxi.
Se fosse hoje?
Hoje, talvez não pegasse um trem para chegar, mesmo que partisse de Délhi, cuja viagem dura umas quatro horas. Uma boa opção, partindo de Delhi ou Mumbai, é pegar um vôo até Dehradun (DED), que fica ao norte de Rishikesh. Depois, contrate um táxi até lá. O tempo de viagem é o mesmo, saindo de Dehradun ou de Haridwar.
Alguns trens indianos mais confortáveis, com ar e leito, por exemplo, não tem janelas na altura dos olhos, como os trens europeus. E os que tem janelas, a paisagem não é tão interessante ao ponto de valer ir na janelinha. Sem falar nos banheiros. Enfim, decida-se. 🙂
E onde ficar?
Ao chegar lá, passei por uns dois hotéis. Tive de trocar de hotel, dada a péssima qualidade dos lugares. Naquela época, o Booking ainda não estava tão popular por lá e a escolha era in loco mesmo. Porém, hoje é bem mais fácil. Mas o mais interessante é buscar um Ashram, até para garantir a experiência completa neste lugar que se propõe a ser a capital da Yoga.
Cheguei a entrar em um deles para ver como funcionava. A foto a seguir foi tirada de um Ashram que fica do outro lado do rio Ganges, visão oposta do lado que se entra na cidade. Essa região concentra diversos deles.
Há outras atrações na cidade menos “haribôs”, digamos assim. Elas incluem descer de bote o rio Ganges, na altura onde ele é mais limpo, ao norte da cidade. Fisicamente, a cidade é pequena. E é na convivência e conversas com as pessoas que mora o verdadeiro ouro do lugar.
Relato da minha mente versão 2013:
[começa 2013] Diferente dos outros locais, onde a abordagem era feita especificamente por homens, jovens ou adultos, em Rishikesh foi a presença infantil que mais percebi.
As crianças desejam vender sapatos velhos, maços de flores passadas e, até mesmo, pedrinhas. Algumas vezes é possível ver os adultos próximos. Enfim, se aproveitam da leveza que só os filhotes humanos têm para pedir meras 5 ou 10 rúpias. (Algo que, infelizmente, não é novidade para nós brasileiros).
Sadhus e moradores de rua também faziam presença nas ruas. Entretanto, os Sadhus não são pedintes, o que não dificulta a convivência. Falo isso pois, muitas vezes na situação de turista você pode ser facilmente coagido por qualquer um. Viajando sozinho então, nem se fala.
É visível também como os gurus são valorizados na região. De prova real, só vi um, sentado à beira do rio, dando bençãos com seus auxiliares de prontidão.
Aliás, o turismo da fé foi bem planejado. Explora-se bem os produtos “haribô”. Sabe aquela Índia vendida às pessoas? Lá você encontrará.
Tudo parece ser muito sincero, mas o valor de algumas coisas me faz desistir de acreditar na “pureza” em alguns momentos. Afinal, a fé pode mover montanhas, como também produzir montanhas de valor.
As obras sociais em torno do templo que teve uma ligação com o Principe Charles, justifica um comércio particular no entorno do local. Na foto a seguir, um ritual com um dos poucos Gurus que vi se manifestando na beira do rio.
Rishikesh conseguiu isolar a parte turística da cidade do outro lado do rio, literalmente. Dessa forma, como fazemos em todas as cidades, segrega-se melhor a visão que os turistas levarão na memória de lá. [termina 2013]
Apesar do pouco tempo que fiquei na cidade, apenas 2 dois, a experiência foi intensa. Afinal, quando se é turista brasileiro e fisicamente semelhante a eles, sempre tem alguém à espera para puxar assunto. Bela Rishikesh!