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A sobrevida da cultura popular: Olinda

Soluções digitais para instituições e marketing político.

A sobrevida da cultura popular: Olinda

Patrimônio Mundial da Humanidade. De fato, Olinda é linda. Ou melhor: o centro histórico da cidade é lindo. Como diz o hit local, “Hino do Elefante de Olinda”, os coqueirais, sol e mar fazem vibrar o coração.

Chegamos à cidade na quinta de madrugada. Do aeroporto Guararapes à Olinda são 25 minutos, sem trânsito, claro. Falo isso pois, como uma boa capital brasileira, Recife foi inundada pela recente onda de carros, graças aos incentivos do governo na compra de veículos. Conversando com uma moradora, a pressão dos carros nas ruas estimulou o uso das bicicletas. O governo sentiu e iniciou a construção de ciclovias. Até aí, lindo. Mas, é aquela coisa: demanda cresce, oferta reduz e preço sobre. Segundo ela, bicicletas que antes eram compradas a 700 reais, agora são encontradas por R$2.000.

Se isso é verdade ou não, só apurando. Pra mim, a percepção é tão importante quanto a realidade. O ditado popular nos diz que “o povo aumenta, mas não inventa”. Impressões ou não, o coro local era relevante.

E o que isso tem a ver com cultura popular?

Quando estive em Varanasi, a cidade sagrada para o hinduísmo, me caiu a ficha do quanto toda aquela pobreza influenciava as crenças do povo. Senti que tanto em Mumbai quanto em Nova Delhi, capitais financeira e administrativa da Índia, havia um comportamento padrão das classes-média. Vestes, marcas, gostos, programas de televisão, tudo era devidamente adaptado, pautado pela “cultura raíz” e devidamente empacotado para venda.

De um modo geral, a tal cultura passada por gerações parece ter uma relação estreita com a condição financeira. Quanto mais pobre, menos opções de entretenimento, menos deslocamento geográfico, mais envolvimento com as questões locais e maior preservação dos hábitos. Com cerca de 388 mil pessoas, Olinda é como outras cidades imersas no contexto metropolitano, com forte influência da capital Recife e seus mais de 1,5 milhões de habitantes. Relatos de pessoas que moram em uma cidade e trabalham em outra são comuns. Tão comum quanto a fuga do carnaval para Itamaracá, mais ao norte, ou Bezerros, mais no interior pernambucano. Só que para isso, é necessário dinheiro.

Com essa significativa melhora econômica nos últimos 20 anos, meu sentimento é de que, aos poucos, a necessidade de preservação das manifestações culturais está se tornando um negócio sem volta. Nada contra fazer dinheiro, até porque eu gosto muito de produzi-lo. Mas não gosto do que parece falso. Imagine daqui a 20 anos: será que só haverá grupos profissionais se fantasiando de Caboclo de Lança para os turistas? Hoje isso já acontece em menor escala, mas é muito ruim ver coisas que não são verdadeiras, que não tem a energia que só o que é natural tem.

 

Caboclo de Lança na Ladeira da Misericórdia - Olinda - Matheus Graciano

Morando no Rio, vejo isso acontecer com a participação nas escolas de samba ou com o dia de São Cosme e Damião. As escolas estão se remodelando. Já pegar doce na rua está se tornando uma brincadeira cada vez mais rara.

Entretanto, há solução. Na quarta-feira de cinzas, ainda em Pernambuco, vi a entrevista do prefeito Geraldo Julio (2013-2016) dizendo que este carnaval de Recife teve grande participação popular, pois as pessoas foram para as ruas. Segundo as pesquisas, cerca de 61% dos foliões eram locais, o que refletiu na grande participação das famílias no carnaval. Penso que as famílias são as grandes mantenedoras da cultura. A memória infantil e o relacionamento com os pais e familiares nesses eventos são fundamentais na perpetuação das manifestações culturais. Bom para o turismo, bom para todos.

Dinheiro público, incentivos, isso tudo é bom para o que é material. Um bom exemplo é o negócio do artesanato que exporta os traços culturais dos locais para o mundo. Mas no campo imaterial, com a melhora das condições financeiras, são as famílias que propagam as tradições e costumes.

Parafraseando Joãozinho Trinta, quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta de luxo. Mas é possível ter luxo sem perder o que as origens têm de melhor. É só manter tudo em casa.

Aproveite para ver os vídeos também.

Patrimônio Mundial da Humanidade. De fato, Olinda é linda. Ou melhor: o centro histórico da cidade é lindo. Como diz o hit local, “Hino do Elefante de Olinda”, os coqueirais, sol e mar fazem vibrar o coração.

Chegamos à cidade na quinta de madrugada. Do aeroporto Guararapes à Olinda são 25 minutos, sem trânsito, claro. Falo isso pois, como uma boa capital brasileira, Recife foi inundada pela recente onda de carros, graças aos incentivos do governo na compra de veículos. Conversando com uma moradora, a pressão dos carros nas ruas estimulou o uso das bicicletas. O governo sentiu e iniciou a construção de ciclovias. Até aí, lindo. Mas, é aquela coisa: demanda cresce, oferta reduz e preço sobre. Segundo ela, bicicletas que antes eram compradas a 700 reais, agora são encontradas por R$2.000.

Se isso é verdade ou não, só apurando. Pra mim, a percepção é tão importante quanto a realidade. O ditado popular nos diz que “o povo aumenta, mas não inventa”. Impressões ou não, o coro local era relevante.

E o que isso tem a ver com cultura popular?

Quando estive em Varanasi, a cidade sagrada para o hinduísmo, me caiu a ficha do quanto toda aquela pobreza influenciava as crenças do povo. Senti que tanto em Mumbai quanto em Nova Delhi, capitais financeira e administrativa da Índia, havia um comportamento padrão das classes-média. Vestes, marcas, gostos, programas de televisão, tudo era devidamente adaptado, pautado pela “cultura raíz” e devidamente empacotado para venda.

De um modo geral, a tal cultura passada por gerações parece ter uma relação estreita com a condição financeira. Quanto mais pobre, menos opções de entretenimento, menos deslocamento geográfico, mais envolvimento com as questões locais e maior preservação dos hábitos. Com cerca de 388 mil pessoas, Olinda é como outras cidades imersas no contexto metropolitano, com forte influência da capital Recife e seus mais de 1,5 milhões de habitantes. Relatos de pessoas que moram em uma cidade e trabalham em outra são comuns. Tão comum quanto a fuga do carnaval para Itamaracá, mais ao norte, ou Bezerros, mais no interior pernambucano. Só que para isso, é necessário dinheiro.

Com essa significativa melhora econômica nos últimos 20 anos, meu sentimento é de que, aos poucos, a necessidade de preservação das manifestações culturais está se tornando um negócio sem volta. Nada contra fazer dinheiro, até porque eu gosto muito de produzi-lo. Mas não gosto do que parece falso. Imagine daqui a 20 anos: será que só haverá grupos profissionais se fantasiando de Caboclo de Lança para os turistas? Hoje isso já acontece em menor escala, mas é muito ruim ver coisas que não são verdadeiras, que não tem a energia que só o que é natural tem.

 

Caboclo de Lança na Ladeira da Misericórdia - Olinda - Matheus Graciano

Morando no Rio, vejo isso acontecer com a participação nas escolas de samba ou com o dia de São Cosme e Damião. As escolas estão se remodelando. Já pegar doce na rua está se tornando uma brincadeira cada vez mais rara.

Entretanto, há solução. Na quarta-feira de cinzas, ainda em Pernambuco, vi a entrevista do prefeito Geraldo Julio (2013-2016) dizendo que este carnaval de Recife teve grande participação popular, pois as pessoas foram para as ruas. Segundo as pesquisas, cerca de 61% dos foliões eram locais, o que refletiu na grande participação das famílias no carnaval. Penso que as famílias são as grandes mantenedoras da cultura. A memória infantil e o relacionamento com os pais e familiares nesses eventos são fundamentais na perpetuação das manifestações culturais. Bom para o turismo, bom para todos.

Dinheiro público, incentivos, isso tudo é bom para o que é material. Um bom exemplo é o negócio do artesanato que exporta os traços culturais dos locais para o mundo. Mas no campo imaterial, com a melhora das condições financeiras, são as famílias que propagam as tradições e costumes.

Parafraseando Joãozinho Trinta, quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta de luxo. Mas é possível ter luxo sem perder o que as origens têm de melhor. É só manter tudo em casa.