Mané Galinha é um dos personagens mais famosos do cinema nacional. Muitos não sabem, mas seu nome era Manuel Machado Rocha. Iniciou sua carreira criminosa como assaltante, sendo preso inúmeras vezes. Entrou no Exército Brasileiro aos 18 anos, ficou por alguns anos, mas ao sair, quis o destino que seus caminhos fossem outros na CDD.
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O que talvez você nunca tenha visto é sua entrevista. Ao final do filme “City of God”, o nosso popular “Cidade de Deus”, Mané Galinha fala a verdade sobre sua situação com o Zé Pequeno ao Jornal Nacional.
Veja o vídeo de Mané Galinha no Jornal Nacional anos 70
Mané: – Muita gente já morreu e só gente inocente.
Repórter: – E a polícia não vai lá?
Mané: – A polícia vai mas sei lá. A polícia em cima de mim vai sempre. Portanto, eu fui preso três vezes, em quanto o cara mata de montão, entendeu? Ainda mata e a polícia nada de por a mão em cima dele.
Os registros dessa época mostram a mesma situação de gato e rato entre bandidos e polícia. Algo que nada mudou até hoje. Isso só reforça a ideia de que, por as vidas policiais em risco num confronto nunca fez sentido.
Infelizmente, são os acordos por baixo dos panos que nos mantém numa situação minimamente aceitável.
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Uma história contínua até hoje no Rio de Janeiro
A primeira vez que vi Cidade de Deus nos cinemas, ainda em 2002, foi uma catarse. Todas aquelas cenas pareciam ter sido tiradas de alguma realidade muito próxima a todos nós. E era.
O produto cinematográfico que deu nova vida à Mané, Bené e Zé Pequeno nada mais era do que uma representação do que vivemos até hoje, em 2018, no Rio de Janeiro.
Depois de anos com os mesmos problemas sociais, os números populacionais explodiram, dando origem a não apenas um foco, como foi na Cidade de Deus, mas à vários, em diversos bairros e favelas nos municípios que ficam ao redor da Baía de Guanabara. O Cinturão Fluminense.
Parece que as notícias se mantém em loop. Há alguns anos, iniciei uma série chamada Dinâmica dos Fluidos Políticos no Rio de Janeiro. Em uma dessas partes, falamos sobre Moreira Franco, um dos personagens centrais dessa confusão política, junto com os outros governadores, como Leonel Brizola, Garotinho e Cabral.
Especialmente nas questões de segurança pública, infelizmente.
Nesse vídeo, veiculado numa matéria do Jornal Nacional em 1990, já final de mandato, Moreira, que hoje é ministro do governo do presidente do Brasil Michel Temer (PMDB / 2016–2018), mostra que as desculpas sobre as inabilidades políticas já são mais velhas que nós.
Interesse nos personagens de Cidade de Deus só cresce
Nos últimos tempos, houve um crescimento significativo nos acessos sobre a publicação que fiz sobre Bené, Zé e Mané, ainda em 2014. Na época, o intuito era comparar a vida destes três personagens do filme, mostrando como cada um exercia sua Liderança.
Hoje o interesse acontece pelas figuras românticas que foram criadas com o filme. Apesar da extrema crueldade em algumas cenas, os ambientes precários daquela CDD dos anos 70 parece term tido menos impacto na vida das pessoas do que acontece hoje.
Mas é apenas uma ilusão. Sem esquecer que era um período de… Ditadura Militar (1964–1985).
Família de Mané Galinha processou criadores do filme
Se para o público o interesse é grande pelo personagem fora da lei, na vida real, a família de Manoel foi reclamar na justiça sobre a retratação do filho bandido no filme.
Mesmo assim, em 2010, a justiça deu veredito a favor da Editora Schwarcz, responsável pela publicação do livro “Cidade de Deus” e que baseou o filme de Fernando Meirelles. A mesma não foi obrigada a pagar indenização aos familiares de Mané Galinha.
Se para a família é um problema, parece que para os fãs, Mané é um personagem mítico na triste história do crime do nosso Rio de Janeiro.