Prever futuros geracionais sem pensar nisso é perda de tempo
Curto pesquisas. Ainda que eu saiba que elas só são feitas para mapear tendências de consumo, sempre bate aquela sensação de que falta alguma coisa. Especialmente quando se fala sobre “o futuro de uma geração”.
No 1º domingo de janeiro de 2018, o Fantástico da Rede Globo exibiu uma matéria falando sobre a geração tecnológica e seu choque de realidade, com base no trabalho MODELO DE PAÍS da PUC-RS. O interessante dessa vez foi apresentar as visões dos jovens brasileiros de 18–34 anos num cenário normal. Sem crescimento, nem euforias.
A expectativa sobre o país mudou bastante. Alguns de nós ficaram mais apreensivos e com uma expectativa bem diferente da era de ouro (2010–2014). Mas há um lado bom. Aqueles jovens que têm oportunidades de estudo e condições financeiras melhores estão vendo um pouquinho mais de perto o que passam os 2/3 da população brasileira todos os dias. A chamada realidade da vida.
Quando se fala essa sobre a 3ª parte da vida (pós infância e adolescência), muitas vezes há um foco mais aspiracional que real. Essas distorções geraram coisas como o funk ostentação (que já se foi), por exemplo. Mas o ser humano do cotidiano é reto. Sabe que sem acesso ao dinheiro, sonho, nem o da padaria.
Filhos e boletos: sabe quanto custa?
Se os jovens de hoje estão levando mais tempo para sair de casa e para ter filhos, dinheiro é a resposta mais simples para isso.
Essa é uma realidade questionável. Pessoas com menor acesso à educação ainda tem filhos cedo e estão em união estável, começando a vida adulta bem mais cedo que a breve parcela de universitários que pautam o país.
Na matéria, um dos entrevistados deixou claro que não sabia o custo de vida de sua casa, até sair dela. Apesar de achar isso surreal, ainda acontece em muitas casas brasileiras. Como minha mãe sempre me deixou a par sobre o custo das coisas, meus traços juvenis aspiracionais sempre tiveram um pezinho bem calcado no chão.
Adultos, aguardem!
O momento atual é uma lição para todos nós. Especialmente para os mais velhos. Em geral, muitos deles ficam antecipando análises e cobranças, gerando o (desnecessário) conflito de gerações.
Ainda sim, nós os entendemos.
Por eles terem passado por essas duas fases mais cedo, seja tendo filhos ou saindo de casa, num ambiente financeiro particularmente mais complexo que o atual, suas urgências vieram bem antes também.
Porém, uma geração nunca é tão diferente assim após ter filhos e boletos a pagar. A história mostra isso. Nem quem passou pela época do movimento hippie — que foi muito mais “lacrador” ou rompedor do que hoje–passou incólume pelas responsabilidades da vida adulta.
É hora de esperar mais uns anos para saber o saldo de tantas transformações em cima dessa faixa etária, que além de ser a maior numericamente, ainda viverá o fardo de a mais numerosa na própria velhice, caso não tenhamos nenhum boom populacional ou migração em massa até lá.
E nem vou citar o fato de ainda termos um número nunca antes visto de mães, pais e avós ainda vivos, ajudando financeiramente em alguns casos. Uma longevidade rara na história humana, que adia as dores das perdas e mantém hierarquias familiares.
Mas isso é para outro post. 😉