Dinâmica simples, não? Por enquanto, as relações são bem familiares. Já falamos de Seu Gegê, de seu convite a Jango para entrar na política e de seu genro, Amaral Peixoto, que tornou-se interventor do estado do Rio. Bola pra frente que ainda tem conto.
Jango e Brizola
“Cunhado não é parente. Brizola presidente!”
Depois que Seu Gegê partiu dessa pra melhor, muita coisa aconteceu. Duas delas são fundamentais para entender o que vem por aí. A primeira é a entrada de JK. Ele mudou a capital para Brasília, deixando o Rio, literalmente, órfão. E não estamos falando de atenção, estamos falando de dinheiro! A capital federal tinha muita grana rodando em torno de si. Isso desencadeou o processo de fusão que se concretizou em 1975, reduzindo as receitas da cidade. A segunda se chama Jânio. Ou melhor, a renúncia de Jânio, comunicada pelo mesmo 7 meses depois de empossado. Nesse mafuá, Jango entrou!
Brizola, Jango e Jânio Quadros
Vindo lá de Carazinho, Brizola tem todos os méritos para chegar onde chegou. Com 36 nos, foi eleito governador do Rio Grande do Sul. Entretanto, amigo, influência política é como doença contagiosa. Se não estiver próximo aos “hospedeiros”, não pega. Uma boa rede de contatos é importante. Sorte também. E se você for casado com a irmã do presidente da república, pode-se dizer que a sorte dorme com você.
Depois dos mandatos de prefeito de Porto Alegre e governador do Rio Grande do Sul, Brizola parte para o Rio, sendo eleito em 63 como deputado federal pela Guanabara. Esse é o ponto-chave. Pra bom entendedor, poucas ações bastam.
Por sua liderança política, era um dos cotados ao cargo de presidente nas eleições seguintes, junto a Carlos Lacerda e JK. Entretanto, devido às suas relações familiares com João Goulart, o povo falava bastante. Daí o surgimento da frase: “Cunhado não é parente, Brizola presidente!”
Mil novecentos e sessenta e quatro chegou. Jango caiu. Brizola foi cassado, mas deixou o nome gravado.
Bem, enquanto os militares governam, eu vou ali tomar um café e já volto.
Voltam eleições, voltam esperanças
Os anos passaram. Os militares viram que não tinha jeito: teriam que abrir o regime. Em 74, Geisel começa a abertura política no mesmo ritmo dos seres humanos: lentos e graduais.
Tempo passando, vamos ao ano de 1982. Primeiras eleições para governador depois de tanto tempo com os militares no poder. Na Guanabara, a última foi com Negrão de Lima, em 1966. Já no Rio de Janeiro, o último eleito tinha sido Badger da Silveira, em 1962. Aliás, parênteses: reconhece esse nome, Silveira? Então, ele é tio do Jorge Roberto Silveira. Pra você ver como esse “caso de amor” com o povo de Niterói vem de longe.
Naquela eleição foram 5 candidatos ao governo estadual. Brizola foi eleito. Moreira Franco ficou em segundo.
Brizola 82 e a contrução de uma dinastia
Veja, o que Brizola colheu em 1982 foi resultado de uma reputação construída 20 anos antes. Esse é um dado importante a ser observado. Com a ditadura em curso, Brizola representava uma força contra aquilo tudo.
Sendo opinativo, acredito que o Leonel foi mais um dentre os governadores fluminenses que só queriam usar o Rio como elevador eleitoral. Assim como São Paulo, o Rio é, e sempre será, uma vitrine do Brasil. Vida que segue.
Começa o primeiro governo Brizola. Esse é outro ponto importantíssimo. Aqui começa a eclosão da semente que reina no imaginário do eleitorado fluminense até os dias atuais.
No mesmo grupo político que apoiou Brizola em 82, destaque para dois integrantes do PDT, Partido Democrático Trabalhista, que você irá conhecer bem no futuro: Marcello Alencar e César Maia.
Brizola e Darcy pegaram um Rio cheio de problemas e recém-fundido. Fizeram o que podiam, com destaque para os dois maiores marcos do período: os CIEPS e o Sambódromo.
Independente desse legado, Darcy, agora candidato a governador em 1986, não conseguiu ganhar do 2º colocado na eleição passada: Wellington Moreira Franco.
Moreira Franco, o genro do genro
Lembra que na primeira parte dessa história pedi para você guardar o nome de “Celina Vargas do Amaral Peixoto”? Pois bem, olha ela aqui de novo.
Celina é neta de Getúlio Vargas, o Seu Gegê. Filha de Amaral Peixoto com Alzira Vargas, foi casada com Moreira Franco. Não precisa ser investigador da polícia federal pra entender como Moreira tornou-se político. Na verdade, veja só: suas conexões foram iguais as de seu sogro.
Ele foi prefeito de Niterói em tempos de ditadura militar, na década de 70. Em 82, foi candidato ao governo estadual, mas Brizola o venceu com uma mínima porcentagem. Nesta época, aconteceu o tal “escândalo da ProConsult”, um evento no qual a eleição quase foi fraudada. Aliás, no “Livro do Boni” e no “Plim Plim: a Peleja de Brizola Contra a Fraude Eleitoral” você pode ler melhor sobre essa história. Dois lados, duas versões. Moreira é sempre citado como candidato preferencial da Globo, emissora de televisão que não suportava o Brizola, cujo asco era recíproco.
Moreira entra em 87, momento econômico difícil no Brasil. Governa até 91. Ao contrário de seu sogro, não deixa filhos políticos, nem elege seu sucessor, Nelson Carneiro. Depois disso, se elege deputado federal em 94.
Se observarmos bem, ele é um qualificado quadro político. Sociólogo, doutor pela Sorbonne (universidade francesa renomada), seu destino natural era ser engolido pela máquina. Convenhamos, comparado ao cenário que veio nos anos 90, seu carisma era pífio, mas sua qualificação acadêmica difícil de alcançar.
Um momento curioso aconteceu na eleição de 2004, para prefeito de Niterói. Moreira foi para o segundo turno com Godofredo Pinto, vice que assumiu a prefeitura em 2002, depois que Jorge Roberto Silveira saiu para ser candidato a senador. Vendo que Godofredo teve 48% dos votos no primeiro turno, tirou o time de campo e não disputou o segundo turno. Exemplo de que, em política, quando se tem visão, o orgulho vai pro saco.
Seu Gegê, Amaral Peixoto e Moreira Franco: uma relação de sogros e genros determinante na vida política fluminense, mas que acabou em 91.
Enquanto isso, começa um novo momento no cenário político do Rio. Brizola ainda é forte. Mas em 10 anos tudo pode mudar.
Leia a parte 3 da série “Dinâmica dos Fluidos Políticos do Rio de Janeiro”.